Continuamos a publicação de entrevistas com os participantes no projecto SAPO Summerbits, o primeiro programa nacional de bolsas de apoio ao software livre, organizado pela Associação Ensino Livre e o SAPO. Publicamos hoje a entrevista respeitante ao programa GLOBS, software para gerir glossários totalmente livre.
Viva caríssimos Alberto Simões e Nuno Veloso. O GLOBS pretende ser uma ferramenta livre para gerir glossários? Querem-nos falar um pouco sobre as necessidades que existem hoje em dia a nível da gestão de terminologia? Seria interessante conhecermos alguns casos típicos de utilização…
O GLOBS pretende ser uma ferramenta livre para a edição colaborativa de glossários (ou terminologias).
Estes recursos são especialmente úteis para tradutores. A tradução de diferentes áreas de conhecimento obrigam a que os tradutores saibam como traduzir a terminologia específica de cada uma destas áreas. Como isso é impossível (existem demasiadas áreas de conhecimento), os tradutores usam terminologias e glossários.
Um exemplo típico é a tradução do termo "Computer Graphics" que, como sabemos, é traduzido por "Computação Gráfica". No entanto esta é uma tradução completamente errada (sabemos que a computação não é gráfica). Mas o termo cristalizou-se e agora é aceite incondicionalmente por toda a comunidade. São estas as palavras típicas para constar numa terminologia.
Para além dos tradutores, qualquer outro utilizador pode tirar partido destes recursos, já que podem funcionar como dicionários comuns.
Daí o interesse em manter o Globs a funcionar como um `agregador´ centralizado de terminologias. Apenas desta forma se poderá construir uma base de conhecimento de larga escala.
Existem soluções proprietárias semelhantes às que o GLOBS já fornece e vai fornecer? Se sim, quais são as vantagens do GLOBS face às mesmas?
Existem soluções proprietárias para a gestão de terminologia, com algumas semelhanças às oferecidas pelo GLOBS. As soluções proprietárias são essencialmente mono-utilizadores, e as que suportam alguma edição colaborativa obrigam a que exista um servidor centralizado, e um conjunto de clientes, todos com aplicações proprietárias. Ou seja, é necessário instalar software proprietário no computador de trabalho do tradutor, o que leva a que seja necessário pagar mais licenças, e usar um sistema operativo também proprietário.
A solução GLOBS, por ser baseada em Web tem a vantagem de que qualquer utilizador pode aceder usando qualquer browser, aberto ou não, em qualquer sistema operativo.
O registo é completamente gratuito pelo que qualquer pessoa (estudante, profissional ou casual) poderá colaborar e ajudar a completar terminologias.
Outra vantagem reside na simplicidade da aplicação. A interface foi pensada para integrar perfeitamente nas características das Web 2.0. De facto, uma aplicação stand-alone peca pelos demasiados menus e áreas de trabalho sobrecarregadas e monótonas. Neste caso existe uma interface pensada para quem passa muitas horas em frente à aplicação, assim como um fluxo de acções lógicas e menus nos sítios certos, sendo que não aparecem onde não são necessários.
As ferramentas de importação e exportação que serão desenvolvidas sobre a plataforma GLOBS permitirá que um utilizador que o pretenda usar possa reaproveitar as suas terminologias criadas num sistema proprietário, e vice-versa.
Imaginemos que faço parte de uma equipa de tradução de um grande projecto internacional como é o caso do Openoffice.org ou ainda do navegador web Firefox. O GLOBS servirá a minha equipa?
A tradução de material técnico obriga a uma grande consistência na tradução de termos técnicos. Uma simples tradução de "save" pode ser feita como "salvar" ou "guardar". Se existir uma terminologia partilhada com termos usados habitualmente em UIs, toda a equipa pode consultar e realizar traduções consistentes.
Quais são as perspectivas de vir a reunir uma comunidade de utilizadores/programadores em torno do GLOBS?
A ideia por trás do GLOBS surgiu com aulas de Licenciatura a cursos de letras sobre o uso de ferramentas de tradução. Poucos são os alunos que têm a sorte de poder ingressar num gabinete de tradução com fundos para angariar as ferramentas de tradução proprietárias. Deste modo, é nossa convicção que os alunos que se dediquem à tradução freelance possam vir a usar o GLOBS profissionalmente.
Em relação a programadores/colaboradores de código somos um pouco mais cépticos. Embora a ferramenta nos pareça útil e relevante, não nos parece existir uma grande comunidade interessada em integrar novas funcionalidades neste tipo de software. A necessidade do funcionamento da framework Drupal pode pesar para a redução de possíveis programadores/colaboradores.
Mas claro, esperamos estar enganados.
Quando poderemos contar com a primeira versão funcional?
A versão que já disponibilizamos on-line está funcional, embora com algumas limitações. Dada a origem do GLOBS (trabalho prático semestral de uma licenciatura) preferiu-se dar prioridade à construção de um serviço com cabeça, tronco e membros, onde se conseguisse ver o ciclo de vida de um glossário. Para isso esqueceram-se alguns detalhes, que embora relevantes, foram deixados para serem implementados após a conclusão do semestre. Estes detalhes estão neste momento a ser implementados e permitirão uma maior flexibilidade na definição de glossários.
Pelas indicações que constam da página do projecto, parecem ter vários objectivos a longo prazo em termos de funcionalidades. Querem partilhar connosco as vossas prioridades?
Neste momento as prioridades do GLOBS são as que obrigam à re-estruturação da base de dados: a definição de estruturas de glossários, independentes entre glossários, e com campos específicos, criados pelo utilizador do glossário.
Após essa tarefa, pretende-se ligar o GLOBS ao mundo exterior, com a criação de importadores e exportadores de diferentes formatos, desde os formatos usados pelas ferramentas proprietárias, até ao
uso de alguns standards actualmente em desenvolvimento para a partilha de terminologias.
Por último, a pergunta habitual: qual a vossa opinião sobre o SAPO Summerbits?
Com o tamanho do Google Summer of Code é quase impossível que pequenos projectos que possam contribuir para a comunidade portuguesa sejam aceites. Com o SAPO Summberbits é possível colmatar essa lacuna. Claro que como ano pioneiro surgiram alguns problemas, mas a equipa por trás desta iniciativa mostrou-se bastante flexivel e ultrapassou esses obstáculos sem problemas.
Obrigado pelo vosso tempo e votos de um futuro longo para o GLOBS!